Karl Jaspers e o existencialismo:
O pensamento de Jaspers foi influenciado pelo seu conhecimento em psicopatologia e, em parte, pelas doutrinas de Kierkegaard e Nietzsche . Sempre teve interesse em integrar a ciência ao pensamento filosófico na medida em que, para Jaspers, as ciências são por si só insuficientes e necessitam do exame crítico que só pode ser dado pela filosofia. Esta, por sua vez, deve basear-se numa elucidação, a mais completa possível, da existência do homem real, e não da humanidade abstrata. O resultado das reflexões de Jaspers sobre o tema foi a primeira formulação de sua filosofia existencial, o livro "Psicopatologia Geral" foi um grande marco em sua carreira e na evolução da psicopatologia. O existencialismo constitui, segundo Jaspers, o âmbito no qual se dá todo o saber e todo o descobrimento possível. Por isso a filosofia da existência vem a constituir-se numa metafísica . A existência, em qualquer de seus aspectos, é precisamente o contrário de um objeto, pois pode ser definida como o que é para si. O problema central é como pensar a existência sem torná-la objeto. A existência humana é entendida como intimamente vinculada à historicidade e à noção de situação: o existir é um transcender na liberdade , que abre o caminho em meio a um conjunto de situações históricas concretas. Jaspers preocupou-se em estabelecer as relações entre existência e razão , o que o levou a investigar em profundidade o conceito de verdade . Para ele, a verdade não é entendida como característica de nenhum enunciado particular: é antes uma espécie de ambiente que envolve todo o conhecimento. A forte defesa da filosofia e da liberdade foi uma das marcas do pensamento de Karl Jaspers. Inúmeros os autores podemos chamar de “filósofos da existência”, desde Nietzsche, Chestov, Unamuno, passando por Kierkegaard, Heidegger, Jaspers, Sartre, e Gabriel Marcel entre outros, contudo, falar do existencialismo, implica falar em filosofia da essência, ou, em termos místicos, de Deus, isto é, implica falar, por um lado, dos que creem nessa mesma essência e, por outro, dos que, à priori, a contestam. De um lado, temos o pensamento existencialista cristão ou religioso; do outro, o pensamento existencialista ateu ou não religioso. O existencialismo cristão ou religioso teve entre seus maiores representantes, os pensadores Karl Jaspers e Gabriel Marcel, eles refletem, de uma forma geral, as influências do pensamento de Kierkegaard. O existencialismo, no século XX, acentuou-se em consequência das duas grandes guerras mundiais, esses trágicos acontecimentos originaram uma angústia extrema no homem, era necessário tirá-lo dessa situação de desespero e descobrir uma filosofia mais próxima deste homem dilacerado, ou seja, que coincidisse melhor com a realidade da dramática existência quotidiana. Karl Jaspers construiu um pensamento onde são retomadas as questões tradicionais da filosofia e lançadas por Kant: o que posso saber? O que devo fazer? O que posso esperar?
A sua filosofia apresenta-se sob a capa de uma metafísica ou ontologia concreta, pois Jaspers defende que, em qualquer altura da nossa vida, qualquer um de nós se coloca este tipo de questões, o seu pensamento procura exprimir o “modo de ser” deste homem, ou seja, trata-se de uma filosofia que recupera a visão do homem em todas as suas dimensões, mesmo nas mais espontâneas: “O amor por uma filosofia fundamentante da vida protestava contra essa filosofia científica, que precisamente se impôs com os seus esforços metódicos e as suas exigências de um pensar severo, e com isso realizou uma obra educativa, mas na sua base era modesta, ingênua e cega para a realidade” (Jasper). O existencialismo afigura-se como uma corrente que procura compreender a realidade na ótica concreta do existente, para Jaspers, ela é a base para construir uma concepção da realidade, sendo o objetivo fundamental o esclarecimento da existência do homem, pois ele não será uma essência definida, mas sim o que escolher ser na concordância com a imprevisibilidade da sua vida. Jaspers reconhece que a vida humana se identifica com as escolhas que o homem fizer, mas, ao contrário de Sartre, a liberdade não é ilimitada, concretiza-se dentro de estritos limites. A existência assume uma característica fundamental que é o fato de ser única, irrepetível, inacabada, mas representa sempre uma possibilidade para cada um de nós. Estamos sempre em puro devir ou constantemente em contato com o mundo. A existência para Jaspers é a relação dos existentes com o mundo, na medida em que este é o campo onde a existência se manifesta, sempre no âmbito de uma liberdade limitada pelas próprias circunstâncias e pelo mistério que nos envolve. Segundo Jasper, o homem tem sido estudado pelos diferentes campos científicos, no entanto, estes campos não nos dão a visão de totalidade, apenas o homem fragmentado, apesar de poder ser objeto de estudo, o homem situa-se no domínio do indescritível. O homem tem a sua existência no mundo, mas os objetos, bem como os outros seres, são sempre "o outro", sendo impossível apreendê-lo e incompreensível no seu todo. Portanto, o indivíduo é inesgotável e dentro do seu próprio mundo não tem limites nas possibilidades de escolha. Não há ciência alguma que o decifre definitivamente mas, por outro lado, o homem só se efetiva como existente quando se interroga pela origem da sua existência. Só através do contato com o ser do mundo que o homem se descobre, na medida em que reconhece a sua liberdade; pois é como se o sujeito se voltasse para si próprio originando um auto-conhecimento. Neste contato com o mundo, aliado à sua própria liberdade, o homem é confrontado com situações-limite que o obrigam a colocar-se perante uma possível transcendência ou Deus: “Assegurada a nossa liberdade, logo um segundo passo se impõe para a nossa auto-apreensão: o homem é o ser relativo a Deus” (Jaspers).
Karl Jaspers considera Deus um aspecto importante na vida dos existentes uma vez que a cada escolha o homem se vê inserido em algo que o sustenta continuamente. A filosofia assume como tarefa a decifração de todos os sinais que Deus dá ao homem. Estes sinais ou "cifras" na linguagem Jasperiana, nunca serão clareados, pois trata-se de uma tarefa interminável. "A divindade nunca será clareada apesar das falsas pretensões da filosofia ao longo dos tempos". Chegamos, portanto, a uma situação em que a transcendência aparece na existência, ela está presente no pensamento mas permanece de algum modo inteligível. "Da existência podemos apenas retirar a sua existência porque eu sou um ser que estou aí, é inegável, enquanto que da transcendência podemos apenas ter uma representação ou um conceito" (Jaspers). Assim, Jaspers defende que todo o esforço para falar do infinito, do transcendente não é uma busca em vão. Não obstante, a linguagem parece estar como que impedida de alcançar certos conteúdos infinitos e temporais, com precisão e clareza, pois implicaria trazer a dimensão da intemporalidade para a temporalidade. Nesta ordem, resta ao homem o reconhecimento dos limites da sua própria linguagem e, em última instância, o silêncio.
Referências bibliográficas:
ABBAGNANO, Nicola, Introdução ao Existencialismo, Preâmbulo e tradução de João
Alves, Lisboa, Ensaio Editorial Minotauro, s.d.
JASPERS, Karl, Iniciação Filosófica, 7ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, s.d
Site de referência:
http://www.scielo.oces.mctes.pt
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