"A vida é um contínuo fazer, porque nada é dado de fato, temos que nos fazer. A vida é um problema que temos de resolver."Ortega y Gasset.
Raciovitalismo:
José Ortega y Gasset iniciou sua intelectualidade entre os idealistas neokantianos da escola de Marburgo, na
Alemanha. Foi então que ele se descontentou com a configuração do idealismo que propunha uma consciência vazia, sem nenhuma vivência ou experiência para almejar algo mais dinâmico com a história. Em seguida, se indispôs com as teorias que validavam a universalidade da ciência, sobretudo com os positivistas. Nesta fase, o filósofo se perguntou o que é que assegura a objetividade do pensamento? A partir daí, ele chega à fenomenologia de Edmund Husserl, que explicava que a ação da consciência consistia num conhecimento direto ao objeto. Ainda assim, Ortega sentiu a ausência de vivência, em seu sentido concreto e, finalmente, se descontenta com o método fenomenológico. Mas, encontra em Wilhelm Dilthey a possibilidade de relacionar as estruturas históricas e as estruturas humanas sem elaborar esquemas formais, mas era preciso descobrir qual categoria seria possível para equalizar tais estruturas. Assim, a distinção de Ortega surge como uma reação ao idealismo, ao positivismo e à fenomenologia. Para ele, tais correntes filosóficas construíram fórmulas sobre a verdade numa consciência vazia de experiência; reduziram o conhecimento às perspectivas subjetivas relativizando a verdade; e valorizaram o tecnicismo. Todas estas correntes filosóficas já não sintonizavam com os fatos históricos do século XX vividos pelas guerras, totalitarismos e a massificação da sociedade. Sob a influência do pragmatismo anglo-americano, que incentivava a realização de um projeto, Ortega admite a possibilidade de aliar concretamente a história e o homem. E esta interseção seria possível se essa categoria fosse a vida, e para ele a vida é uma manifestação radical, isso não quer dizer apenas algo único e extremo. O termo “radical” significa as instâncias que ligam as coisas, os fatos da vida em suas variadas circunstâncias. Para ele, a vida é uma categoria que funde a noção com a atividade na realidade. E realidade, para Ortega, é o hábito da mente em se sincronizar com os fatos históricos Então, a esta sincronia entre pensar em conjunto com os fatos históricos se chama Raciovitalismo ou Razão Vital. Ao denominar como raciovitalismo, Ortega explicou que não desejava se deixar confundir com os racionalistas e nem com os vitalistas. Para ele, o racionalismo é a busca de um método para postular a verdade, pela consciência simples; o vitalismo é a submissão às leis orgânicas e instintivas do corpo biológico. Então, o seu raciovitalismo não pode pretender copiar o racionalismo e nem se reduzir ao vitalismo. Para se diferir, o filósofo explica que o raciovitalismo é o uso da razão para investigar algum componente que seja estranho a história e à vida, para compreendê-lo. E a vida é histórica. Ao compreender a vida como histórica, ele nos dá a dimensão da cultura e da civilização como meios que fornecem os problemas e os fundamentos filosóficos que devem ser pensados. Na prática, Ortega constrói uma moderação nos campos teóricos e sente que este era o compromisso que a Filosofia tinha com a sociedade e com a História. O raciovitalismo não usa categorias como: eu, homem e existência. Para Ortega, nenhuma destas categorias exprime o indivíduo concreto. O sentido do raciovitalismo é compreender as circunstâncias e permitir que haja escolhas do que se quer fazer de forma concreta e não se lamentar. A originalidade de Ortega é que ele não caracteriza a vida pela irracionalidade, nem pela racionalidade e também não encontra alternativas subjetivas e nem simplesmente objetivas como era corrente por seus contemporâneos. O sentido que ele postula sua filosofia é em buscar um pensamento para viver, e não uma vida para pensar: "A teoria do conhecimento é parte da vida. No entanto, quero ser um meio termo entre o racionalismo e o vitalismo, ou seja, entre Kant e Nietzsche." O fato não pode ser separado do ser humano, a vida humana é um projeto no sentido de que o homem tem de criar-se, de inventar-se. O homem não é senão um fato contínuo, em fazer e refazer, projetado para o futuro.
Referências bibliográficas:
SAVIGNANO, Armando. José Ortega y Gasset. Cristianismo secularizado. In PENZO,
Giorgio & GIBELLINI, Rosino. Deus na filosofia do século XX. São Paulo: Loyola, 1998.
VATTIMO, Gianni. A sociedade transparente. Lisboa: Relógio D’água, 1992.
Site de referência:
http://html.rincondelvago.com/raciovitalismo.html
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