Existir para Karl Jaspers:
"Existir significa, pura e simplesmente, filosofar, se bem que filosofar nem sempre signifique fazer filosofia. Com efeito, filosofar significa para o homem, antes de mais, defrontar, com olhos bem abertos, o seu destino e a si mesmo pôr, com clareza, os problemas que resultam da justa relação consigo próprio, com os outros homens e com o mundo. Significa não já limitar-se a elaborar conceitos, a idear sistemas, mas escolher,decidir, empenhar-se, apaixonar-se; em suma, viver autenticamente e ser autenticamente ele próprio". (Karl Jaspers)
Interlocutor simultâneo de Kierkegaard e de Nietzsche, Karl Jaspers foi, juntamente com Heidegger, um dos mais atentos e interessados pesquisadores da existência humana, assim como um dos grandes renovadores do pensamento filosófico do século XX. No que diz respeito à obra de Nietzsche, Jaspers aceitou a transmutação dos valores, estruturada numa crítica demolidora dos vários grilhões da Verdade, e a exaltação da paixão dessa mesma Verdade. A filosofia existencial de Karl Jaspers assenta-se em três conceitos fundamentais: o mundo (Dasein), a existência e a transcendência, essas forças caracterizam-se por uma unidade fundamental que advém da luta que as distingue e as impele na direção umas das outras. Coexistem em cada um de nós e constituem aquilo que somos. O Dasein é o homem na sua vida vulgar. Enquanto Dasein, o sujeito está ao nível da vida e só pelo conjunto da vida consegue explicar a si próprio que vive e morre porque está ligado a um corpo. O Dasein está no mundo mas não se reflete a si próprio enquanto presença no mundo. Falta-lhe o que lhe permite estabelecer um horizonte de significação com o mundo e reconhecer-se ou re-ver-se interiormente na qualidade de outro em relação ao próprio mundo: a consciência. No entender de Jaspers, a existência é uma realidade que oscila entre a subjetividade e a objetividade e manifesta-se como Dasein. O sujeito vive nela e é dela que tira todas as suas possibilidades, mesmo sem poder apreendê-la ou ver o seu próprio eu. A compreensão da transcendência é ajudada e enriquecida com a distinção que Jaspers estabelece entre os conceitos de situação e de situações-limite. Ao nível da Existência, a presença é um existir em situação, não é o estar-aí, mas o ser-aí do sujeito que transforma um fato ou um acontecimento em situação dando-lhe conteúdo e significação, inserindo-a num horizonte de historicidade. A situação não vale pelo seu fora, mas pelo seu dentro. O valor existencial da situação não reside naquilo que lhe é exterior, como os fatos e os acontecimentos que a envolvem, por exemplo, mas naquilo que a faz existir como situação: o sujeito, o eu. E o sujeito ou o eu está sempre em situação. Luta, culpa, dor, sofrimento e sentimento de morte. São originados na própria liberdade que, por ser (na Existência) tendência para o absoluto e para o incondicionado, acaba por querer o impossível. Como a liberdade é luta e conflito, a culpa é inevitável. O homem pode tentar suprimi-la, mas não pode escapar a ela. Negar esta culpa equivaleria a assumir uma outra, tão ou mais dolorosa e difícil, tão ou mais aniquiladora do próprio sujeito: a da negação da própria liberdade. A culpabilidade é inerente à própria liberdade e à própria Existência. Embora as situações-limite sejam, marcas profundas e autênticas da presença da Transcendência, vive-se, perante elas, no seu próprio limite. Face a este limite, o desespero e a angústia invadem-nos com frequência, nada ver por detrás delasnão significa que nada existe para além delas. Jaspers compara-as a um muro contra o qual se embate, porque é da queda que o homem se pode erguer de novo. Encarar as situações-limite, sem fugir e sem as negar, é o único modo que o homem tem de poder decifrar ou ver o que está para além delas. Porque elas estão-lá, sem que sejam previsíveis nem superáveis, sem que se possam deduzir de alguma outra coisa, ser explicadas ou modificadas. E é precisamente nisso que reside a sua grandeza. Assumir livremente a sua ruína é a única forma do homem descobrir que essa ruína não é o fim, mas um novo princípio e um novo começo. O desespero e a angústia não surgem apenas da possibilidade de vivermos uma determinada situação como limite dessa mesma situação. Surgem também da nossa liberdade de decisão."Escolher". Não poder deixar de escolher, mas escolher autenticamente, realizar esta liberdade que torna o sujeito responsável pela sua Existência.
Referências bibliográficas:
Abbagnano, N. (s.d.). Introdução ao existencialismo.
Lisboa: Editorial Minotauro.
Antunes, M. (1973). Grandes contemporâneos. Lisboa:
Editorial Verbo.
Blumenberg, H. (1990). Naufrágio com espectador: Paradigma
de uma metáfora da existência. Lisboa:
Vega
Site de referência:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/
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