domingo, 15 de janeiro de 2012

"Eu não tenho ensinamento algum. Eu conduzo um diálogo." Martin Buber.


 "Aos 17 anos li "Assim falava Zaratustra" de Nietzsche, este livro apoderou-se de mim... não agiu sobre mim como um dom benéfico mas como uma agressão da qual fui vítima... que me tirou a liberdade a qual só consegui recuperar após longo tempo". Martin Buber.



Martin Buber e a existência:

 "Durante sua passagem pelo caminho terreno, o homem foi aumentando em ritmo crescente o que se costuma denominar de seu poder sobre a natureza, e conduzir, de triunfo em triunfo, o que se deliberou denominar de a criação de seu espírito. Entretanto, enquanto passava por crise após crise começou a sentir, cada vez mais profundamente, a fragilidade de sua grandeza e, em horas de clarividência, conseguiu entender que, apesar de tudo o que se costuma chamar de progresso da humanidade, não caminha absolutamente por uma estrada aplanada, mas é obrigada a trilhar, pé ante pé, uma estreita cumeada entre abismo. Quanto mais grave for a crise, tanto mais sério e consciente da responsabilidade é o conhecimento que de nós se exige pois, embora o importante seja o feito, somente o feito esclarecido no conhecimento contribuirá para superar a crise". Martin Buber.


O pensamento de Martin Buber se desenvolve em torno da distinção fundamental entre o mundo objetivo do Isso, e o pessoal do Tu, consistindo sua originalidade no descobrimento da essencial relação destas duas esferas com o Eu. De fato Buber não fala nunca do Isso e do Tu isolados do Eu, e sim de duas relações emparelhadas: Eu-Tu, Eu-Isso.  A significação central do pensamento de Buber está na relação com o outro. A filosofia de Buber deve ser compreendida como uma filosofia do encontro, ou do diálogo. O fato antropológico primordial, para ele,  é a relação. Por isso escreve, parafraseando o prólogo do Evangelho de João: “No princípio é a relação” (BUBER).  A relação, como diversas vezes lembra o autor, é reciprocidade.  A preocupação de Buber,  não foi a de criar conceitos abstratos, mas despertar a nostalgia do humano; para ele, a filosofia do diálogo, mais do que tratar do evento da relação no campo da ética, coloca a intersubjetividade como um fato antropológico fundamental. Mais do que o “dever ser” ético, Buber busca a resposta para a pergunta “o que é o homem?”. Na "filosofia do diálogo" de Buber, o homem pode relacionar-se de duas formas com os outros seres: tomando-os por objetos ou colocando-se na presença deles. Essas duas atitudes são expressas por aquilo que o autor chama de palavras-princípio, respectivamente a palavra-princípio EU-ISSO e a palavra princípio EU-TU. Para Buber  a linguagem é portadora da capacidade de ser. A palavra que, sendo dialógica, faz abertura ao mundo, a um outro, invoca a relação,  muito mais do que nomes e significados, ela indica a própria condição do homem como ser existente. Segundo Buber, o homem habita na sua palavra. Ela não só é proferida pelo ser, nas também instaura modos de existir do ser humano, ou melhor, uma postura de dualidade diante do mundo: “O mundo é duplo para o homem, segundo a dualidade de sua atitude. A atitude do homem é dupla de acordo com a dualidade das palavras-princípio que ele pode proferir” (BUBER). "Não é o homem que conduz a palavra, mas é ela que o mantém no ser", para Buber a palavra proferida é uma atitude efetiva, eficaz e atualizadora do ser do homem. Ela é um ato do homem através do qual ele se faz homem e se situa no mundo com os outros. A intenção de Buber é desvendar o sentido existencial da palavra, pela intencionalidade que lhe dá sentido. Martin Buber é um homem atípico exatamente porque recusa apresentar uma doutrina estruturada, formal, em sua obra,  pretendia abrir os olhos e as almas dos homens de sua época à realidade viva na qual devem tecer sua existência. Buber contribuiu valiosamente para o conhecimento do homem e da sociedade, segundo ele, o homem  assisti, impotente, a prepotência do princípio político, a supremacia avassaladora do Estado sobre o princípio social e ético. Neste estado de coisas este homem,  cada um de nós, concretamente,  sentimos ameaçadas a autonomia e as possibilidades de auto-afirmação da nossa  liberdade. Vivemos pela ideologia do progresso, acreditamos demasiadamente nas possibilidades pretensamente ilimitadas da razão, da ciência e da técnica. A proposta de Martin Buber para uma existência dialógica fundada sobre a relação inter-pessoal é original na medida em que é provocadora em sua simplicidade. Nada mais simples, na verdade, entender o homem como ser de relações". Na relação inter-humana o mais importante é que para cada um dos dois homens, o outro aconteça como este outro determinado; que cada um dos dois se torne consciente do outro de tal forma que assuma para com ele um comportamento, que não o considere e não o trate como seu objeto mas como seu parceiro num acontecimento de vida. Buber aponta três principais problemas para a realização do diálogo, do inter-humano. O primeiro é a dualidade de ser e parecer. O diálogo não acontece se aqueles que estão envolvidos nele são "simples aparência", isto é,  se estão preocupados com sua imagem, com o modo pelo qual desejam encontrar o outro. Os parceiros do diálogo devem "ser", apresentar-se sem reservas, como realmente é. O segundo problema diz respeito ao modo pelo qual percebemos os outros. Para Buber perceber o outro é tomar dele um conhecimento íntimo, diferente da observação analítica e redutora que transforma o outro em simples objeto. Tal percepção, tal conhecimento íntimo significa também "tornar o outro presente". O terceiro problema que dificulta a realização do diálogo é a tendência de "imposição" ao outro. Segundo Buber, um modo de afetar uma pessoa é impor-se a ela. Uma forma de ação para "tocar" o outro é encontrar-se também na alma dessa pessoa, como se nela instalado e incentivar aquilo que em em mim mesmo  reconheço como certo, o  "Eu e Tu" em relação, definem a base para as reflexões sobre uma nova concepção de comunidade como forma mais autêntica de vivência entre os homens.


Referências bibliográficas:

 BUBER, Martin. Do diálogo e do dialógico. Tradução de Marta Ekstein de Souza Queiroz e Regina Weinberg. São Paulo: Perspectiva, 1982.
BUBER, Martin. Encontro – fragmentos autobiográficos. Tradução de Sofia Inês Stein. Petrópolis: Vozes, 1991.
BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução. e introdução de Newton Aquiles von Zuben. 5.ed. São Paulo: Centauro, 2001

Site de referência:

 http://www.fae.unicamp.br





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