terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A existência é no mundo.


" A mediação entre o eu, o mundo e os outros, é a consciência de mim no meu corpo."Gabriel Honoré Marcel.

 Gabriel Marcel afirma que a  a existência é o ponto de partida e de referência do trabalho filosófico a partir da questão Quem eu sou? Sou uma encarnação, segundo Marcel.  A mediação entre o eu, o mundo e os outros, é a consciência de mim no meu corpo. A existência humana, para Marcel, é essencialmente itinerância, um movimento, um peregrinar orientado por um propósito. Ao nascer, o homem dá início a sua jornada neste mundo, no qual não tem morada definitiva. Existir é caminhar e não deixar nunca de caminhar. O peregrino  é um  ser encarnado, concreto e singular. Sempre situado no mundo, e, por ele constantemente influenciado. O peregrino se engaja para transfor o mundo, para dar-lhe sentido, é alguém que caminha sempre em busca de ser mais do que é. O peregrino, ao contrário do andarilho solitário, caminha engajado, com os outros, assim, o peregrinar é a condição de possibilidade para encontrar respostas àquelas interrogações mais profundas e decisivas que surgem na vida ao longo do caminho. O amor e a fidelidade é o fundamento da verdadeira comunhão, segundo Marcel,  este é o pressuposto básico para o surgimento autêntico da esperança. Sempre como exigência ontológica do homem, a esperança se constitui num apelo que nasce do mais profundo do ser no momento do sofrimento, da mais sofrida provação; ali onde intervém a tentação de desesperar. Para Gabriel Marcel, o existente não é uma idéia, mas um ser concreto, individual, que sofre, se angustia, se projeta no mundo, se constrói com o outro e que carrega dentro de si uma profunda esperança de vitória sobre a morte. Para Marcel a filosofia deve partir do solo da experiência, das situações cotidianas da vida concreta do homem e, em sentido de perfuração, penetrar na sua existência de modo a iluminá-la. Gabriel Marcel, discordou e em um determinado momento confrontou-se com o filósofo idealista Leon Bruschvicg, confronto que ocorreu devido a uma forte afirmação de Leon de que "não há nada além deste mundo cognoscível, e afirmar a existência de algo que estivesse além do conhecimento humano seria um absurdo". Essa afirmação objetivista e reducionista não agradou a Marcel, que trazia consigo a dura experiência da dor e da morte de milhares de seres humanos na Primeira Guerra Mundial. A partir daí rompeu definitivamente com o idealismo em nome de uma filosofia concreta, da experiência e da esperança. Uma filosofia na qual pudesse encontrar respostas para suas mais profundas inquietações existenciais. Ao abordar a existência humana como itinerância, Marcel se propõe ao máximo ser fiel ao homem e ao mundo concreto. Suas compreensões conquistadas acerca do homem são substancialmente resultado da sua própria experiência pessoal e do contato direto com a vida concreta das pessoas com as quais conviveu. Para Marcel o pensamento e a vida devem andar juntos, pois do contrário, o pensamento, ao desligar-se do concreto, decolaria para uma abstração sem fim, enquanto a vida continuaria na penumbra da falta de rumo, de propósito e de sentido. A filosofia concreta, antes de qualquer coisa, pretende ser uma ponte entre nossa vida concreta e o pensamento reflexivo, procurando o sentido último da existência humana. O homem não nasce pronto, frente às possibilidades dadas e construídas por ele mesmo ao longo do caminho é que realiza a nobre e interminável tarefa de fazer-se mais do que é. Cada passo que é dado, é dado na direção do que deseja ser mais, na direção do que projeta ser mais. O homem sempre busca ser mais, anseia por completude. Segundo Marcel as questões mais profundas e decisivas da vida, as quais o intelecto não consegue dar conta, só podem encontrar respostas ao longo do caminho. Em suas ideias, afirma que a existência humana é um mistério do qual participamos e  peregrinar é uma forma de penetrar neste mistério, compreendê-lo melhor pouco a pouco e, assim, experimentar uma parte de sua inesgotável riqueza. O homem que rejeita caminhar, que opta pelo suicídio, rejeita viver esse mistério maior que é o existir, o aperfeiçoar-se, o fazer-se mais do que é, o conviver. A existência é um mistério porque não está fora do homem, pelo contrário, é o modo de ser no mundo e com os outros, próprio do ser humano. A encarnação situa-se no âmbito do mistério, pois não é algo separado de mim, todavia, o fato da encarnação ser um mistério não significa que é totalmente velada,  pois somos seres encarnados, participamos diretamente da encarnação e, portanto, temos condições de aos poucos desvelá-la, mesmo que de modo parcial. Ser encarnado é manifestar-se ao mundo, é lançar-se em itinerancia, através do corpo, tendo a consciência de que ele não é uma peça, uma máquina ou um objeto de uso, mas sim o "meu corpo", formando comigo uma unidade indissolúvel, de modo que, me é impossível reconhecer-me sem ele. O reconhecimento da condição de itinerância e temporalidade do homem fizeram com que Marcel substituísse o termo de heidegger ser-no-mundo pelo termo estar-no-mundo. Afinal, o verbo estar em relação ao verbo ser caracteriza melhor a condição transitória do homem, a sua "passagem-pelo-mundo". O fato do peregrino estar-no-mundo não significa que ele se comunica com o mundo, pois só há comunicação verdadeira quando há comunhão e esta, por sua vez, só é possível no âmbito da subjetividade e não no dos objetos do mundo. O peregrino, através de sua encarnação, é uma presença concreta que participa do mundo e da vida dos outros. Não é uma pedra imóvel à beira do caminho, mas sim uma presença viva, aberta, em movimento.

 Site de referência:
http://www.filosofia.ufc.br/

Referências bibliográficas:
ZILLES, U. Gabriel Marcel e o Existencialismo.
Porto Alegre: Ed. PUCRS/Acadêmica, 1988



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