Gabriel Marcel:
Gabriel-Honoré Marcel nasceu em 7 de dezembro de 1889 e faleceu em 8 de outubro de 1973, em Paris, filho único do diplomata francês Henry Marcel. Perdeu sua mãe aos quatro anos. Foi educado pela avó materna e por uma tia de quem recebeu educação rigorosa e que veio a ser a segunda esposa de seu pai. Marcel foi sempre o centro do carinho e das atenções da família, mas sofria com as exigências de perfeccionismo acadêmico, sempre maiores apesar de seu excepcional rendimento escolar. Quando jovem gostava de viajar, o que lhe foi facilitado pela natureza do trabalho de seu pai. Quando este recebeu uma missão diplomática na Suécia, Marcel o acompanhou. Aprendeu com suas viagens várias línguas e conheceu a literatura de vários países. A filosofia foi um interesse precoce em Gabriel Marcel. Aos dezoito anos ele já trabalhava sua tese para diplomação em estudos superiores "As idéias metafísicas de Coleridge em suas relações com a filosofia de Schelling," e estudou filosofia na Sorbonne. Apesar de ter passado os exames para ser professor de filosofia nas escolas secundárias em 1910, ele nunca completou sua tese para o doutorado, cujo tema seria "sobre as condições necessárias para a inteligibilidade do pensamento religioso". A religião não fez parte da formação de Marcel. Tanto o pai quanto a madrasta eram agnósticos Seu pai era católico não-praticante e não se preocupou em batizá-lo, e sua tia e madrasta era judia, também não-praticante, porém depois converteu-se a uma forma liberal de protestantismo. Era uma moralista rigorosa segundo padrões de tradicionalíssimo moral. A família tinha como guias suficientes das atitudes corretas a
razão, a ciência e a consciência moral natural. Durante a primeira guerra Marcel serviu como oficial da Cruz Vermelha, com a difícil missão de comunicar a morte e o desaparecimento de soldados aos parentes mais próximos, um contato permanente com o sofrimento que influenciou diretamente suas ideias. Em 1919 Marcel casou com Jacqueline Boegner, professora de música , eles adotaram um filho, Jean-Marie, que inspirou o filósofo a escrever mais tarde sobre paternidade criativa e o espírito da adoção. Marcel, que toda a vida sentiu a ausência de sua mãe, que perdera muito cedo, enfrentou novo choque com o falecimento de sua mulher em 1947. O fato decisivo na vida espiritual de Marcel foi sua conversão ao catolicismo romano em 23 de março de 1929. Ele escolheu o catolicismo, o qual ele entendia como uma fé universal, econtinuou como um filósofo independente, nunca um teólogo apologista ou porta voz de uma filosofia oficial católica. A Dramaturgia foi outro instrumento significativo de expressão do seu pensamento. Em suas primeiras peças como La Grâce, Le Palais de sable, Le Coeur des autres, e L'Iconoclaste tratavam da espiritualidade autêntica e inautêntica, fidelidade e infidelidade, satisfação e frustração nas relações pessoais. A princípio, "filosofia" significou para Gabriel Marcel apenas um tipo de pensamento sofisticado e abstrato, que buscava transcender o mundo empírico ordinário. Só gradualmente, e durante um longo período de pesquisa e comprovação, ele começou a dar forma a uma filosofia concreta que procurava aprofundar e resgatar a experiência humana íntima. Essa conversão filosófica ocorreu quando estava trabalhando para a Cruz Vermelha Francesa, durante a Primeira Guerra Mundial, tentando encontrar soldados listados como
desaparecidos. Em lugar da informação nas fichas do arquivo ele passou a ver pessoas reais, apesar de invisíveis - presenças - e a participar da agonia de seus parentes enlutados. Gabriel Marcel viveu a desolação da Primeira Guerra Mundial e percebeu que: “Apontou um ser de dores alegrias,descobrimentos e decepções, não podendo mais se contentar com as formas abstratas, que até então o satisfaziam. Pois, essa época traz a experiência profunda do mim mesmo.” Marcel sente a necessidade de falar sobre a interioridade, sobre o ser e a subjetividade: “...viemos depois de outros, dos quais temos recebido muito (...), e que, em relação a outros seres, também viemos antes”. Marcel constata que o ser em um primeiro momento não se relaciona com o eu, mas com o outro. Muitos já vieram antes de mim, muitos já contribuíram com tantas coisas bem antes de mim. Existe um antes e depois de mim. Isto indica que não sou absoluto nesta relação. Não indica que eu sou melhor e nem pior. Indica um antes e um depois. Hoje recebo e amanhã cederei. Esboça-se o conceito de alteridade. Para Marcel: , “... na medida em que, pela minha própria experiência, me elevar a uma percepção verdadeiramente concreta, estarei em condições de ascender a uma compreensão afetiva do outro, da experiência do outro.” Pela visão metafísica, o ponto de partida é o imaterial para o material. Marcel propõe o contrário: do material para o imaterial. Submerso plenamente pela experiência sensível, posso me elevar na perspectiva do outro. Mas se o ser, em um primeiro momento, se relaciona com o outro, qual é o espaço para a subjetividade? O filósofo responde: “Não me preocupo pelo ser, senão na medida em que tomo consciência, mais ou menos distinta, da unidade subjacente que me une a outros seres, cuja realidade presencio.” O papel da subjetividade se clareia, na medida tomo consciência do outro. Logo, estou diante de uma subjetividade na perspectiva de alguém. Mais: não somente uma subjetividade, mas uma intersubjetividade, já que descubro o eu na relação com o outro. Percebo também que há tanta fragilidade do lado de lá, quanto do lado de cá. Isto implica que sou um ser em trânsito, um ser em relação, que descobre seu eu na relação com o outro. A primeira fonte do
pensamento de Marcel é sua própria existência. Ele mesmo acentua que se deve ter vivido os problemas filosóficos e pelos mesmos, sofrido: “quem não viveu um problema filosófico, quem não foi oprimido pelo mesmo, não pode, de modo algum, compreender o que este problema significou para os que o viveram de antemão: a este respeito as posições se invertem, e a história da filosofia pressupõe a filosofia e não o inverso. De minha parte inclinar-me-ia a negar a qualidade propriamente filosófica a toda obra em que não se possa discernir o que chamarei a mordida do real. A filosofia concreta nasce não somente de uma tensão criadora, continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais estrita e rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua intensidade”. Desde o inicio de seu filosofar, Marcel procura “dar à existência aquela prioridade metafísica que lhe havia tirado o idealismo. Note-se que, entre os pensadores existencialistas, Marcel é o que mais se aproxima de Kierkegaard, embora nada houvesse lido do filosofo dinamarquês, quando desenvolveu suas ideias fundamentais. Embora Gabriel Marcel tenha iniciado sua atividade filosófica sem nada haver lido de Kierkegaard e de Jaspers, segundo sua própria confissão, ocupa, não obstante, uma posição que o aproxima muito de ambos os pensadores. Quanto ao método Marcel se aproxima de Husserl, ele toma uma situação concreta como as relações entre mim e outro, a representação de uma cena passada e faz da mesma uma análise fenomelógica aprofundada. Pode-se dizer que um dos pontos básicos do pensamento filosófico de Marcel é a distinção entre Problema e Mistério, sendo que um problema é algo que encontro diante de mim, que posso objetivamente delimitar e reduzir. Um mistério é algo em meu próprio ser, está implicado e comprometido. Diante do problema minha atitude é a de um simples espectador, no Mistério eu mesmo sou o ator. Marcel observa que para o racionalismo, que explica os efeitos pelas causas, tudo no mundo é completamente natural tendendo transformar o Mistério em um Problema, de degradá-lo a simples problema. "Todo o sobrenatural é Mistério, mas nem todo Mistério é sobrenatural". O mistério, segundo Marcel, é algo que está em mim, algo em que eu mesmo me encontro em que estou envolvido, e que, portanto, não pode ser oposto a mim. Ao passar do Problema para o Mistério, supero o alheamento, não havendo mais a distinção entre o em mim e o ante mim, entre o fora e dentro. A distinção entre Ser (être) e Ter (avoir) é fundamental na ontologia de Marcel. É bem verdade, que esta distinção nasce da dupla experiência de meu corpo e do fato de pertencer eu ao mundo onde se encontra os instrumentos de minha existência. Ter diz respeito a coisas que me são
externas e que de mim não dependem, embora eu seja proprietário das mesmas e possa delas dispor. O "Ser", para Marcel, é aquilo que oferece resistência a uma analise exaustiva orientada para os dados da experiência, pois do Ser não há experiência alguma. Marcel considera inseparável a existência, a consciência de si como existente e a consciência de si encarnado. Para Marcel, a união da alma com o corpo não é essencialmente distinta da união da alma com as demais coisas existentes:
afirmar a existência de uma coisa é como afirmar não só que essa coisa pertence ao mesmo sistema que meu corpo, mas que está também, de certo modo, unida a mim como meu corpo. Marcel distingue duas formas de ter: o ter possessivo que só se realiza onde há fora e dentro em recíproca tensão, o segundo é um ter implicativo ou incluso, segundo Marcel, o homem que vive na esfera do problema e do ter só possui opiniões mutáveis. “Toda fé autêntica está enraizada no ser e no mistério”. O indivíduo só se realiza quando reafirma a transcendência de Deus e sua própria condição de criatura de Deus. A fé se converte então no ato ontológico mais significativo.Não existe o problema de Deus, segundo Marcel, isso implica tratar Deus como objeto, como ausente. Não falamos de Deus, mas com Ele. Deus é presença absoluta. Deus só me pode ser dado como presença absoluta na adoração.Para Marcel crer é sentir-se como no interior de Deus. Contudo a relação ao Eu Creio com a divindade, não pode ser pensada, pois trataria o crente como sujeito e a divindade como objeto. Esta relação estaria contida em um ato de fé. Ato que supõe mais do que a subjetividade. O pensar em Deus é encarado como uma relação absolutamente incluída no ato de fé.Deus é o tu absoluto. O outro absoluto. E na fé, agora chamada invocação, eu construo a realidade do meu espírito, a minha realidade do sentir-me sendo no interior da divindade. Diz Marcel: “Eu sou mais quanto mais Deus é para mim. A crença em Deus é um modo de ser e não opinião sobre a existência
de uma pessoa”. Esta transformação, plenitude que sobrevem à invocação, esta participação no amor é o ser – a forma mais alta da realidade. Este ser fala a linguagem da intimidade, de ser possuído, da plenitude, da saborosa ligação, vínculo, afeto e comunhão.O Deus de Marcel não é objeto susceptível de demonstração objetiva (racionalismo) nem uma mera função (subjetivismo), mas o “Indemonstrável Absoluto”. O drama da existência humana é um encontro pessoal entre Deus e o eu e alterna entre o sim e o não, entre a fidelidade e a infidelidade, entre o amor e o ódio e ao homem é dado o poder único de decidir, afirmar ou negar. O dilema sempre persiste como a essência de sua liberdade.
razão, a ciência e a consciência moral natural. Durante a primeira guerra Marcel serviu como oficial da Cruz Vermelha, com a difícil missão de comunicar a morte e o desaparecimento de soldados aos parentes mais próximos, um contato permanente com o sofrimento que influenciou diretamente suas ideias. Em 1919 Marcel casou com Jacqueline Boegner, professora de música , eles adotaram um filho, Jean-Marie, que inspirou o filósofo a escrever mais tarde sobre paternidade criativa e o espírito da adoção. Marcel, que toda a vida sentiu a ausência de sua mãe, que perdera muito cedo, enfrentou novo choque com o falecimento de sua mulher em 1947. O fato decisivo na vida espiritual de Marcel foi sua conversão ao catolicismo romano em 23 de março de 1929. Ele escolheu o catolicismo, o qual ele entendia como uma fé universal, econtinuou como um filósofo independente, nunca um teólogo apologista ou porta voz de uma filosofia oficial católica. A Dramaturgia foi outro instrumento significativo de expressão do seu pensamento. Em suas primeiras peças como La Grâce, Le Palais de sable, Le Coeur des autres, e L'Iconoclaste tratavam da espiritualidade autêntica e inautêntica, fidelidade e infidelidade, satisfação e frustração nas relações pessoais. A princípio, "filosofia" significou para Gabriel Marcel apenas um tipo de pensamento sofisticado e abstrato, que buscava transcender o mundo empírico ordinário. Só gradualmente, e durante um longo período de pesquisa e comprovação, ele começou a dar forma a uma filosofia concreta que procurava aprofundar e resgatar a experiência humana íntima. Essa conversão filosófica ocorreu quando estava trabalhando para a Cruz Vermelha Francesa, durante a Primeira Guerra Mundial, tentando encontrar soldados listados como
desaparecidos. Em lugar da informação nas fichas do arquivo ele passou a ver pessoas reais, apesar de invisíveis - presenças - e a participar da agonia de seus parentes enlutados. Gabriel Marcel viveu a desolação da Primeira Guerra Mundial e percebeu que: “Apontou um ser de dores alegrias,descobrimentos e decepções, não podendo mais se contentar com as formas abstratas, que até então o satisfaziam. Pois, essa época traz a experiência profunda do mim mesmo.” Marcel sente a necessidade de falar sobre a interioridade, sobre o ser e a subjetividade: “...viemos depois de outros, dos quais temos recebido muito (...), e que, em relação a outros seres, também viemos antes”. Marcel constata que o ser em um primeiro momento não se relaciona com o eu, mas com o outro. Muitos já vieram antes de mim, muitos já contribuíram com tantas coisas bem antes de mim. Existe um antes e depois de mim. Isto indica que não sou absoluto nesta relação. Não indica que eu sou melhor e nem pior. Indica um antes e um depois. Hoje recebo e amanhã cederei. Esboça-se o conceito de alteridade. Para Marcel: , “... na medida em que, pela minha própria experiência, me elevar a uma percepção verdadeiramente concreta, estarei em condições de ascender a uma compreensão afetiva do outro, da experiência do outro.” Pela visão metafísica, o ponto de partida é o imaterial para o material. Marcel propõe o contrário: do material para o imaterial. Submerso plenamente pela experiência sensível, posso me elevar na perspectiva do outro. Mas se o ser, em um primeiro momento, se relaciona com o outro, qual é o espaço para a subjetividade? O filósofo responde: “Não me preocupo pelo ser, senão na medida em que tomo consciência, mais ou menos distinta, da unidade subjacente que me une a outros seres, cuja realidade presencio.” O papel da subjetividade se clareia, na medida tomo consciência do outro. Logo, estou diante de uma subjetividade na perspectiva de alguém. Mais: não somente uma subjetividade, mas uma intersubjetividade, já que descubro o eu na relação com o outro. Percebo também que há tanta fragilidade do lado de lá, quanto do lado de cá. Isto implica que sou um ser em trânsito, um ser em relação, que descobre seu eu na relação com o outro. A primeira fonte do
pensamento de Marcel é sua própria existência. Ele mesmo acentua que se deve ter vivido os problemas filosóficos e pelos mesmos, sofrido: “quem não viveu um problema filosófico, quem não foi oprimido pelo mesmo, não pode, de modo algum, compreender o que este problema significou para os que o viveram de antemão: a este respeito as posições se invertem, e a história da filosofia pressupõe a filosofia e não o inverso. De minha parte inclinar-me-ia a negar a qualidade propriamente filosófica a toda obra em que não se possa discernir o que chamarei a mordida do real. A filosofia concreta nasce não somente de uma tensão criadora, continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais estrita e rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua intensidade”. Desde o inicio de seu filosofar, Marcel procura “dar à existência aquela prioridade metafísica que lhe havia tirado o idealismo. Note-se que, entre os pensadores existencialistas, Marcel é o que mais se aproxima de Kierkegaard, embora nada houvesse lido do filosofo dinamarquês, quando desenvolveu suas ideias fundamentais. Embora Gabriel Marcel tenha iniciado sua atividade filosófica sem nada haver lido de Kierkegaard e de Jaspers, segundo sua própria confissão, ocupa, não obstante, uma posição que o aproxima muito de ambos os pensadores. Quanto ao método Marcel se aproxima de Husserl, ele toma uma situação concreta como as relações entre mim e outro, a representação de uma cena passada e faz da mesma uma análise fenomelógica aprofundada. Pode-se dizer que um dos pontos básicos do pensamento filosófico de Marcel é a distinção entre Problema e Mistério, sendo que um problema é algo que encontro diante de mim, que posso objetivamente delimitar e reduzir. Um mistério é algo em meu próprio ser, está implicado e comprometido. Diante do problema minha atitude é a de um simples espectador, no Mistério eu mesmo sou o ator. Marcel observa que para o racionalismo, que explica os efeitos pelas causas, tudo no mundo é completamente natural tendendo transformar o Mistério em um Problema, de degradá-lo a simples problema. "Todo o sobrenatural é Mistério, mas nem todo Mistério é sobrenatural". O mistério, segundo Marcel, é algo que está em mim, algo em que eu mesmo me encontro em que estou envolvido, e que, portanto, não pode ser oposto a mim. Ao passar do Problema para o Mistério, supero o alheamento, não havendo mais a distinção entre o em mim e o ante mim, entre o fora e dentro. A distinção entre Ser (être) e Ter (avoir) é fundamental na ontologia de Marcel. É bem verdade, que esta distinção nasce da dupla experiência de meu corpo e do fato de pertencer eu ao mundo onde se encontra os instrumentos de minha existência. Ter diz respeito a coisas que me são
externas e que de mim não dependem, embora eu seja proprietário das mesmas e possa delas dispor. O "Ser", para Marcel, é aquilo que oferece resistência a uma analise exaustiva orientada para os dados da experiência, pois do Ser não há experiência alguma. Marcel considera inseparável a existência, a consciência de si como existente e a consciência de si encarnado. Para Marcel, a união da alma com o corpo não é essencialmente distinta da união da alma com as demais coisas existentes:
afirmar a existência de uma coisa é como afirmar não só que essa coisa pertence ao mesmo sistema que meu corpo, mas que está também, de certo modo, unida a mim como meu corpo. Marcel distingue duas formas de ter: o ter possessivo que só se realiza onde há fora e dentro em recíproca tensão, o segundo é um ter implicativo ou incluso, segundo Marcel, o homem que vive na esfera do problema e do ter só possui opiniões mutáveis. “Toda fé autêntica está enraizada no ser e no mistério”. O indivíduo só se realiza quando reafirma a transcendência de Deus e sua própria condição de criatura de Deus. A fé se converte então no ato ontológico mais significativo.Não existe o problema de Deus, segundo Marcel, isso implica tratar Deus como objeto, como ausente. Não falamos de Deus, mas com Ele. Deus é presença absoluta. Deus só me pode ser dado como presença absoluta na adoração.Para Marcel crer é sentir-se como no interior de Deus. Contudo a relação ao Eu Creio com a divindade, não pode ser pensada, pois trataria o crente como sujeito e a divindade como objeto. Esta relação estaria contida em um ato de fé. Ato que supõe mais do que a subjetividade. O pensar em Deus é encarado como uma relação absolutamente incluída no ato de fé.Deus é o tu absoluto. O outro absoluto. E na fé, agora chamada invocação, eu construo a realidade do meu espírito, a minha realidade do sentir-me sendo no interior da divindade. Diz Marcel: “Eu sou mais quanto mais Deus é para mim. A crença em Deus é um modo de ser e não opinião sobre a existência
de uma pessoa”. Esta transformação, plenitude que sobrevem à invocação, esta participação no amor é o ser – a forma mais alta da realidade. Este ser fala a linguagem da intimidade, de ser possuído, da plenitude, da saborosa ligação, vínculo, afeto e comunhão.O Deus de Marcel não é objeto susceptível de demonstração objetiva (racionalismo) nem uma mera função (subjetivismo), mas o “Indemonstrável Absoluto”. O drama da existência humana é um encontro pessoal entre Deus e o eu e alterna entre o sim e o não, entre a fidelidade e a infidelidade, entre o amor e o ódio e ao homem é dado o poder único de decidir, afirmar ou negar. O dilema sempre persiste como a essência de sua liberdade.
Referências bibliográficas:
GIORDANI, Mário Curtis. Iniciação ao Existencialismo. Rio de janeiro, Freitas Bastos, 1976.Gabriel
Marcel:
ZILLES, U. Gabriel Marcel e o Existencialismo.Porto Alegre: Ed. PUCRS/Acadêmica, 1988.
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