terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"A Existência vem da sua liberdade".


"... quando eu era criança, li um velho conto judaico que não pude compreender, ele não dizia mais do que isso: 'Fora dos portões de Roma está sentado um mendigo leproso, esperando. Ele é o Messias'. Então me dirigi a um ancião, a quem perguntei : 'O que ele está esperando?' E recebi uma resposta que então não consegui entender, somente muito mais tarde. Ele me disse: 'Está esperando você'." Martin Buber.


Martin Buber:

A visão política de Martin Buber vincula indissoluvelmente paz e justiça, tanto nas relações interiores como nas exteriores às comunidades humanas. Ser um nós, para ele, é reconhecer que a responsabilidade constitui a face ética do diálogo, e entender que somente os que são capazes de dizer um ao outro: tu podem dizer um com o outro: nós. Nessa perspectiva, Buber afirmou: "Se todos estivessem bem vestidos e bem alimentados, então pela primeira vez o problema ético real passaria a ser totalmente visível."  A filosofia de Martin Buber constitui-se, propriamente, no debruçar-se sobre o sentido do humano, que ele compreende, essencialmente, como relação com o outro, com o mundo, com o transcendente. A sua filosofia do diálogo nos permite situar a formação a partir do compromisso com o mundo no qual vivemos. Uma elaboração que possibilite os indivíduos a se desenvolverem de maneira autônoma e autêntica. Martin Buber tornou-se conhecido por sua filosofia do diálogo, sobretudo pela sua elaboração na obra Eu e Tu, publicado em 1923. Trata-se de uma reflexão sobre o sentido do humano, ao mesmo tempo em que é um convite a uma existência autêntica, aquela que só se expressa na vivência dialógica. Compreendendo a pessoa humana como ser de relação, Buber a caracteriza segundo as palavras-princípios que ela pronuncia – Eu-Tu ou Eu-Isso, modos de existência que refletem dois pólos da mesma humanidade e a sua dupla atitude face ao mundo, compreendida como posição fundamental de se colocar a qualquer dos existentes. A relação Eu-Tu, reflete a atitude do encontro com o outro, expressão do significado mais profundo da existência humana, que se revela no engajamento, na solidariedade com o mundo; reflete o comprometimento incondicional com o outro. Já o relacionamento Eu-Isso expressa o distanciamento, a objetividade; reflete a atividade do saber, do experimentar, do utilizar. a relação Eu-Tu, não significa negar a importância do relacionamento Eu-Isso, cujo significado no campo do conhecimento objetivo, no trato com o mundo, é inegável. A relação, que é possibilidade de um encontro dialógico sempre novo, encontra-se envolta na condição de gratuidade, que nos permite reconhecê-la em sua dinâmica de abertura-expontaneidade. Como Buber afirma: “O Tu encontra-se comigo por graça; não é através de uma procura que é encontrado. Mas endereçar-lhe a palavra-princípio é um ato do meu ser, meu ato assencial”. A existência autêntica encontra-se profundamente vinculada à relação com o Tu Eterno. Uma relação que se constitui no mundo, pressupondo que aquele “que verdadeiramente vai ao encontro do mundo, vai ao encontro de Deus”(Buber). Umaexperiência que não afasta o homem da vivência mundana, mas o compromete com a sua existência e com as dos demais entes do mundo, enquanto confirmação de significado que não podemos experimentar mística ou intelectualmente, mas só podemos acolher e viver. Compreender o humano como ser de relação significa, por sua vez, a impossibilidade de compreendê-lo isoladamente, mas apenas na sua relação com o mundo: sua família, seu trabalho, suas responsabilidades e obrigações, experiências que nos permitem caracterizar o humano como ser essencialmente vinculado à comunidade. Segundo Buber, “Comunidade significa, aqui e agora, multiplicidade de pessoas, de modo que sempre seja possível para qualquer um que a ela pertença estabelecer relações autênticas, totais, sem finalidades...”

Referências bibliográficas:

BUBER, M. Eu e Tu. Trad. N. Aquiles von Zuben. 2ª ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.
______. Do diálogo e do dialógico. Trad. Marta E. de S. Queiroz e R. Weinberg. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1982.
______. Sobre comunidade. Trad. Newton Aquiles von Zuben. São Paulo: Perspectiva, 1987

Site de referência:

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