“Se durante o dia o vôo dos pássaros parece sempre sem destino, à noite dir-se-ia reencontrar sempre uma finalidade. Voam para alguma coisa. Assim, talvez, na noite da vida…” Camus
Albert Camus deixou profundas marcas na história do pensamento humano. Seus ideais retratam posturas de alguém que, a despeito da absurdidade da vida, tem prazer por desfrutá-la plena e incessantemente não se permitindo abater pelas dificuldades que se levantam, mas, ao contrário, nelas encontrando forças para alcançar grandes objetivos. De fato, sua vida e obra evidenciam o espírito empreendedor que o impulsionava à constante luta de reconstruir sobre os escombros. A primeira mensagem que Camus nos transmite em sua obra é a de como retirar das situações mais negativas da vida a lição e a razão para modificá-las. Com o tempo, o garoto pobre tornou-se importante ensaísta, novelista, dramaturgo, filósofo e escritor, tendo dedicado sua vida, ao lado de outras ilustres personagens de sua época, a repensar os valores apresentados e impostos por uma sociedade que pouco se importava com a dignidade humana. Camus é classificado usualmente como um filósofo existencialista, embora tenha ele próprio negado esse título afirmando: "Não, não sou existencialista... e o único livro de idéias que eu publiquei´ LeMythe de Sisiph (O Mito de Sísifo), foi contra os filósofos chamados existencialistas". Seu pensamento filosófico é firmado sobre dois pilares principais: o conceito do absurdo e o da revolta. A sua definição de "absurdo" diz respeito ao confrontamento da irracionalidade do mundo com o desejo de clareza e racionalidade que se encontra no homem. Quanto ao conceito da revolta, está vinculado, em última análise, à busca inconsciente de uma moral. Nas palavras de Camus, "ela é um aperfeiçoamento do homem, ainda que cego". Para se compreender o pensamento e a vida de Camus, é preciso inseri-lo em seu contexto histórico, pois, sua filosofia foi fruto de uma realidade e necessidade latente do ambiente em que viveu. Neste contexto, tomou-se corpo e forma um movimento literário que deixou sua marca pela expressividade e participação na vida das pessoas, procurando atender aos grandes questionamentos que eram levantados. Camus escreveu uma obra imersa no real e no concreto, onde o absurdo está presente constantemente. Uma das definições de absurdo, segundo ele, seria aquilo que acontece, mas não poderia acontecer. É o impossível que se torna realidade, é o não aceitável que, embora acontecido, continua como inaceitável. Para capturar o sentimento do absurdo, o ser precisa invocar outros sentimentos. Esses sentimentos variam do desconforto ao pessimismo até a angustia e o desespero, neste sentido, percebe-se uma forte influência de Nietzsche em Camus, seus pensamentos caminham lado a lado quanto ao abandono da condição humana e ao absurdo da existência humana. Camus tentava buscar o máximo de prazer e alegria, pois esse sim era o grande desafio para o ser humano, e não esperar essa recompensa numa vida vindoura. Para Camus, a felicidade era medida pelo prazer sentido pelo corpo, fato notadamente destacado em sua obra "Bodas em Tipasa". Segundo Camus, quanto mais a vida lhe valer, maior será o absurdo trazido por ela. Assim sendo, felicidade e absurdo vivem em parceria, e um pertence ao outro. Para Camus o absurdo era um abismo sem fim, colocado diante do ser humano. Para se entender a intensidade do absurdo seria preciso pular nele, para desta maneira explorar sua existência. Essa noção de absurdo, foi na verdade o motor que o impulsionou a adentrar no tema que seria o seu campo de questionamento pelo resto de sua breve vida, a revolta. Assim, Camus era um homem revoltado que não se sentia bem com a situação absurda dos acontecimentos da vida. Para ele, o homem revoltado era aquele que descobriu o quanto frágil e perecível é sua vida. Consciente da precariedade e da transitoriedade da vida, Camus recusa a ideia de Deus, ele diz não aceitar a noção de algo cuja existência não teria nenhum assento na realidade sensível. Ele recusa duplamente a fé como recusa a injustiça e o privilégio. O problema do mal será uma das questões centrais em todo o pensamento de Camus, ele verá como frustrada a tentativa de eliminação do mal pelo cristianismo, pois este se mostrou uma religião que aceita paradoxalmente o assassinato de um inocente, Cristo. Camus fará um jogo contrário à doutrina cristã entre o Jesus divino e o Jesus humano dizendo que enquanto Jesus era visto como Deus, seu sofrimento na sua morte era a justificação do mal no mundo. Diz ele: "Só o sacrifício de um Deus inocente poderia justificar a longa e universal tortura da inocência. Só o sofrimento de Deus, e o sofrimento mais desgraçado, podia aliviar a agonia dos homens". Camus achava a palavra salvação demasiado grande, não há e nem mesmo é necessário salvação para o ser humano, o homem consciente sabe de sua responsabilidade e dever sobre seu próprio destino, sabe da força e fraqueza que o habitam e não aceita qualquer interferência externa. Para Camus a salvação não existe, ele afastou as soluções fáceis como remédios ao terror inspirado pela morte, seu campo vivencial é o mundo e liga a si mesmo no mundo e faz dele o seu reino. Camus amava mais a natureza do que a história. Acusou o cristianismo de dar lugar e valor privilegiado à história eliminando a relação de contemplação com a natureza mudando o seu eixo para um relacionamento de sujeição. A natureza é, para Camus, o lugar do prazer do corpo, ela é sua mediação com o sagrado. A revolta é a atualização da vida, não se tem mais deus e tudo o que se tem é a vida dada gratuitamente e sem explicação. Nesta vida, é preciso se revoltar, pois pela revolta acabamos por nos conduzir num mundo perdido e com valores que mantenham ou mesmo animem nossa dignidade. A revolta é capaz de nos fazer transcender, a única transcendência de que Camus faz conta é a luta contra o absurdo, a única capaz de reivindicar clareza e ordem num universo que parece pouco razoável. A grandeza da revolta contra todo ataque à dignidade humana reside igualmente na afirmação implícita da transcendência do espírito humano, o único capaz de julgar em nome de uma justiça que somente ele pode conceber.
Site de referência:
http://pt.scribd.com/doc/39321696/Albert-Camus
Referências bibliográficas:
ALVES, Marcelo. Entre o sim e não a Nietzsche. Florianópolis: Ed. Letras
Contempor âneas, 2001.
PECORARO, Rossano. Niilismo. Rio de Janeiro: Ed.Jorge Zahar , 2007
Camus, Albert.O mito de Sísifo. Tradução de Ari Roitman e Paulina Watch. 5. ed. Rio de
Janeiro: Ed. Recor d, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário