quinta-feira, 15 de março de 2012

"O caminho fica longe" Vergílio Ferreira




"Quero é aproveitar o tempo, eu que estou em mim para estar todo no que te digo.
Uma vontade absoluta de te amar, que o absoluto é a medida humana, é assim.
Atravessei o horror e a humilhação. Atravessei a miséria e o que nela apodreceu do
meu corpo terrestre. Lembro-te, penso-me. Está uma noite quente, deve ser o fim
do verão. Lembro-te agora intensamente e a tua perfeição está no fim do meu
lembrar. Esta-se lá bem, no lembrar". Em nome da terra,  (Vergílio Ferreira)


Os três primeiros romances escritos e publicados por Vergílio Ferreira, O caminho fica longe, Onde tudo foi morrendo  e Vagão “J”, apresentam um tom neo-realista que revela o conturbado momento sócio-histórico da época, vivenciado pelo Autor. Contudo, podemos perceber nestes três primeiros livros que a matéria romanesca usada pelo escritor não é de cunho estritamente sóciopolítico e ideológico, pois interessa também ao autor desenvolver uma matéria narrativa que desenvolva aspectos pertinentes  à condição existencial  do ser humano. Assim, Vergílio Ferreira estrutura suas obras ficcionais até o romance Cântico final. O Caminho Fica Longe, é pouco conhecido por causa da sua proibição pela censura, que apreendeu a maioria dos exemplares do livro antes de serem vendidos nas livrarias. Segundo declarou o próprio autor Vergílio Ferreira, não é um romance representativo na sua obra nem poderia ser publicado hoje sem grandes modificações.  Apesar de que esta obra é geralmente classificada como uma obra da primeira fase neorrealista, não devemos rotulá-la porque pela sua juventude (23 anos) de Vergílio, não existiria ainda (aliás, como ele mesmo reconhece) a intencionalidade de inscrever-se numa ou noutra escola, senão que imitaria por inércia a prosa anterior já mais consagrada, a da geração da Presença. Quanto ao fato de se inscrever neste movimento, o autor reconheceu que era devido ao contexto (fim da Segunda Guerra Mundial) e à existência do "mito do comunismo" entre os membros da sua geração. Ele, como outros autores, acreditava nisso que depois definiu como "uma religião" e só com o tempo decidiu não fazer parte do PCP e afastar-se. Apesar disso, o autor não chega a militar nunca contra o comunismo

Referências bibliográficas:


FERREIRA, Vergílio - O Caminho Fica Longe. Lisboa: Editorial Inquérito, 1943

FERREIRA, Vergílio. Em nome da terra. 9.ed. Lisboa: Bertrand editora, 2004.

PAIVA. José Rodrigues de. O lugar de Vergílio Ferreira na literatura portuguesa do
século XX. Recife: Associação de Estudos Portugueses Jordão Emerenciano, 2006.


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