"Estávamos cheios de imensas coisas em suspenso e havia um leve murmúrio do rio só de vê-lo correr. Devia haver um grande silêncio no Mundo porque nos ouviamos ser"
" Todo o homem só ama a mulher que não existe. E bom é isso. Porque se ela existisse, o amor deixava de existir. Mesmo que ele a ame como supõe. Porque todo o amor só existe nos intervalos de a pessoa amada existir. Fora desses intervalos não existe."
"Então olhei-a em deslumbramento e terror no intocável do seu ser. Queria ver-lhe os olhos verdadeiros e a boca e a face, mas não estavam lá. Porque eram só uma aparição difusa incontornável como a luz do ar que não se via e era só iluminação. (…) Via-lhe a face mas só no impossível como lha vejo agora."
"E imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego."
Daniel conhece Bárbara que exerce nele um extraordinário fascínio, mas casa com Ângela que não ama (ou que ama de outra forma) e continua, pela sua vida fora, convivendo através da memória com o amor impossível que sente por Bárbara, em lembranças que vêm por si, sem que ele as chame. Tudo nesse amor evocado por Daniel é duplo: Ângela e Bárbara são duas faces da mesma moeda que o acompanharão sempre. Ângela será a presença constante na conjugalidade partilhada da casa, dos filhos, das férias, mas também das leituras, das conversas, dos momentos de dor e silêncio… Bárbara será o objecto da evocação obsessiva; manter-se-á presente na memória de um breve instante, no eco de um chamamento, como manifestação de plenitude, de perfeição, de eternidade, a face que se vê, mas só no impossível. Ângela é o corpo, Bárbara a aparição.
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