domingo, 15 de julho de 2012

Em nome da Terra.





"Tenho nas mãos a memória do teu corpo, do boleado doce do teu corpo. As pernas, os seios, deixa-me encher as mãos outra vez. O fio ardente da tua pele. A face. Mal te vejo os olhos, mas o teu olhar cai sobre mim em torrente. Despi-me brusco, deitados os dois na areia, e a fúria, e o limite. E uma só verdade para nós e o universo. Deitados de costas, lemos as estrelas. A paz enorme de horizonte a horizonte. A eternidade. E a necessidade de estarmos lá, para não haver mais nada para fora de nós. Depois erguemo-nos, mergulhámos nas águas."

"Quero é aproveitar o tempo, eu que estou em mim para estar todo no que te digo. Uma vontade absoluta de te amar, que o  absoluto é a medida humana, é assim. Atravessei o horror e a humilhação. Atravessei a miséria e o que nela apodreceu do meu corpo terrestre. Lembro-te, penso-me. Está uma noite quente, deve ser o fim do verão. Lembro-te agora intensamente e a tua perfeição está no fim do meu lembrar. Esta-se lá bem, no lembrar."

"Mas de repente começa-me a chover na memória. Não me perguntes porquê ."


João, personagem principal, viúvo, decide viver os últimos anos de vida num Lar, doando todos os seus bens à sua filha Márcia. Para si, guardou apenas, a memória, um Cristo mutilado, um desenho de Dürer, uma reprodução de um fresco de Pompeia e um disco de Mozart - concerto para oboé. Estes símbolos percorrerão a narrativa, estabelecendo uma relação analógica com o corpo, a morte, o esplendor e a beleza. Temporalmente situado no tempo "último" do narrador, este romance constitui-se como um bonito mas doloroso louvor ao amor e ao seu objeto - a sua mulher Mónica, já falecida. Através de um diálogo sem resposta, profundamente intimista, João dirige-se a um "Tu" fisicamente ausente, Mónica, de cujas lembranças se vai alimentando. 





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