"Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação." Vergílio Ferreira.
domingo, 8 de julho de 2012
"Desassossegadamente à sombra de Pessoa" Carla Freitas Martins
Seria possível que surgisse ingenuamente o nome de Alberto Soares em Aparição?
É um estudo da autora Carla Freitas Martins que pretende debruçar-se, sobre a questão da influência de Fernando Pessoa na obra de Virgílio Ferreira. É muito interessante compreender qual foi a influência do poeta nos autores, seus contemporâneos. Há a presença quase esmagadora de Pessoa sobretudo na geração seguinte, que floresce para a escrita nos anos 50. Muitos desses autores vão rebelar-se contra Pessoa, escrevendo "contra" ele, mas afinal apenas com o objetivo mais amplo de eles próprios poderem encontrar o seu espaço. Foi o que fez, nomeadamente, Virgílio Ferreira. Primeiro instintivamente combatendo a influência Pessoana só para mais tarde a aceitar plenamente na sua própria obra. A autora debruça-se sobre a ligação entre os dois autores, que muitas vezes parece estabelecer-se apenas na continuidade do que seria a "dor de pensar", uma atitude eminentemente existencialista e eminentemente Pessoana. É certo que Pessoa desbrava de certa forma esse caminho, mas é menos claro porque é que os autores dos anos 50-60 não são já, claramente, influenciados pelas correntes francesas e necessariamente pela obra de Pessoa enquanto precursor "a derrubar" ou a "continuar". A questão é certamente interessante e a hipótese de Pessoa enquanto autor nascente de um existencialismo que precede o existencialismo Francês.
http://blog.umfernandopessoa.com
O desassossego de Vergílio Ferreira em torno do fingimento poético pessoano e do culto exacerbado da crítica relativamente à geração de Orpheu é a procura consciente de desobstrução de um espaço no sistema literário, do qual resulta inevitavelmente a inclusão do romancista na bibliografia crítica do seu predecessor. A possibilidade que se coloca com este ensaio é a de que, ainda que inicialmente formulando uma discordância, o processo de leitura crítica da obra de Pessoa tenha permitido uma leitura dissemelhante e, progressivamente, mais alargada da obra do seu predecessor e tenha proporcionado um longo processo de maturação dos mecanismos de escrita vergiliana.
http://www.wook.pt
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